A Pedagogia Waldorf

Rudolf Steiner
Rudolf Steiner

A Pedagogia Waldorf é uma proposta educativa, que Rudolf Steiner apresentou como resposta à necessidade de uma escola de futuro, sentida pelos trabalhadores da fábrica de cigarros Waldorf, a quem tinha feito uma série de palestras sobre questões sociais e educativas a pedido do diretor da fábrica, Emil Molt. Tal veio na sequência de um movimento social pela cidadania, onde Steiner apresentara a sua teoria sobre organismos sociais – a tripartição social- em Würtenberg, num momento em que a Europa vivia o após 1ª guerra mundial, por volta de 1920.

A proposta pedagógica de Steiner deve ser compreendida como um caminho de edificação moral que, respondendo às necessidades de desenvolvimento individual e, ao mesmo tempo, da evolução desejável da humanidade, no momento atual da sua história, ajude o ser humano a contribuir conscientemente para essa evolução através da realização do seu próprio projeto de vida.

Pedagogia Waldorf não é um sistema de ensino, mas uma arte – A arte de despertar o que está realmente dentro de cada ser humano.

É uma pedagogia que assenta num conhecimento profundo das fases de desenvolvimento humano, de acordo com a antropologia steineriana e no empenho dos adultos que acompanham crianças e jovens, em melhorar a sua capacidade de conhecer e compreender cada ser humano no seu contexto biográfico, num processo de auto-educação contínuo.

Assim o curriculum está concebido para atender ao desenvolvimento físico/vital, anímico, conceptual e espiritual, direcionado ao Homem de futuro, moralmente livre, isto é, capaz de atuar por imperativo da consciência em nome do Bem e da Verdade.

Cumprir o curriculum na Pedagogia Waldorf equivale a adequar o processo de ensino-aprendizagem às características de cada aluno, servindo ao mesmo tempo a faixa etária do grupo. Os saberes escolares só adquirem sentido no contexto evolutivo de cada criança, numa dinâmica de auto e interajuda que resolva dificuldades e revele soluções que valorizem o papel do(s) outro(s) na vida de cada um. Mas tal só é possível, quando o professor tutelar de turma antevir os efeitos que o método que pretende utilizar vai ter sobre o crescimento dos seus alunos. Porque, não esqueçamos, a sua grande tarefa é conhecer quem a criança é e, consequentemente, aquilo que ela necessita.

Por isso Steiner afirmava que educar é uma arte, pois tal como o artista que, olhando mármore vislumbra a forma que irá dele libertar, o professor deve, olhando a criança, ser capaz de ver o homem em devir que nela habita, porque é esse homem que o curriculum, na sua forma de trabalhar, irá servir.

A escola Waldorf leva o ser humano a fazer esse caminho, permitindo à criança maravilhar-se face ao mundo físico e humano, para mais tarde os servir com reverência e amor.

Ao longo de todo o percurso escolar, mas muito especialmente até à adolescência, privilegia-se a vivência das coisas e dos conhecimentos no contacto direto com a vida e as suas manifestações, o que leva a criança a implicar todo o seu ser na compreensão do mundo que a rodeia, enraizando nela uma ligação de respeito e amor pela Vida. Sobre esse alicerce, tomar-se-á num cidadão que verdadeiramente zelará pela Terra.

Steiner afirmou, tal como hoje está demonstrado na investigação neurológica de António Damásio, que o que em nós nos ensina e transmite conhecimentos é o sentimento cognitivo e não a racionalidade fria e distante. É uma aprendizagem que se desenvolve na escola através de um ensino focado na relação entre o Homem e o mundo, donde mais tarde emanará o sentido da responsabilidade dos homens relativamente a esse mesmo mundo que habitam.

Os conceitos assim adquiridos não secarão ao longo da vida, como algo acabado e morto, mas, tal como uma forma orgânica, crescerão com a riqueza das aprendizagens que cada um for fazendo ao longo do seu caminho. Na verdade só conceitos vivos permitem ao ser humano procurar respostas para as questões que vai encontrando.

O que distingue a pedagogia Waldorf de outras pedagogias é o seu carácter formativo e não informativo e a sua profunda visão da natureza humana, cuja essência, sendo espiritual, só pode ser servida por uma procura de sentido que transcenda o imediato, o perecível, o finito, próprios da realidade sensorial. No entanto, é mergulhando nessa realidade apreensível com a utilização de todos os seus sentidos, que o ser humano pode aprender ao longo da vida a transcendê-la para reencontrar por detrás dela o sentido da vida e da sua existência de homem livre.