O Projeto Educativo da HARPA cobre em qualquer das suas áreas de intervenção – educação escolar, formação de adultos, arteterapia, agricultura e transformação de produtos segundo os métodos da agricultura bio-dinâmica – três vertentes imprescindíveis no processo de desenvolvimento humano: Educação, Saúde e Ecologia.
A alimentação que se pratica no espaço da HARPA, integra-se nos seus princípios e formas de concretização nesse Projeto Educativo.
Sendo um projeto educativo de âmbito antroposófico, onde se fundamenta a Pedagogia Waldorf, sediado numa quinta com um potencial natural diversificado, no qual se aplicam os princípios da agricultura bio-dinâmica, valoriza em primeiro lugar a natureza como o grande mestre da vida, onde tanto as crianças como os adultos podem colher ensinamentos e realizar aprendizagens imbuídas da verdade, do belo e do bom que o decorrer do ano nos oferece em permanência.
É um projeto eminentemente ecológico cuja essência e meta é aprender a estar em sintonia com a necessidade que a natureza emana relativamente ao homem: ser amada e respeitada para lhe poder oferecer a prodigalidade dos seus «serviços».
Em cada novo dia olhá-la atentamente na evolução das suas manifestações, aprendendo a conhecê-la como a fiel depositária da vida, alimenta em cada criança – e em cada um de nós – uma crescente dedicação afetuosa que nos tornará seus protetores e cuidadores.
Pouco a pouco, em cada etapa do seu percurso escolar, as crianças aprendem a crescer ajudando o crescimento na terra-mãe: a utilizar as mãos para preparar o berço que acolhe as sementes; a cuidar de cada momento do seu crescer; a estar atentos às dificuldades desse mesmo crescer, procurando repor com cuidado e carinho o equilíbrio perdido; a colher com mil cuidados, mas principalmente com o coração inundado de gratidão, o «fruto» finalmente pronto para alimentar o homem, seja uma tenra alface, uma maçaroca de milho dourada, maçãs que perfumam o ar, vermelhos medronhos ou negras azeitonas… Aprendem também que, ao longo dos tempos, as qualidades únicas de cada «fruto» testemunham um manancial de propriedades que existem para cuidar da existência dos seres vivos. Mas que é preciso aprender a lê-las no perfume, na cor, na acidez ou no travo, no seu crescimento vertical ou horizontal e, depois, aprender a captá-las em óleos balsâmicos, em chás curativos, em compotas que perduram…
Assim no próprio crescimento da criança, desde a memória do corpo até às profundas experiências da alma, se vai inscrevendo a coerência que transborda dos processos de vida na natureza.
A necessidade de preservar essa coerência passa a ressoar nos processos vitais do seu corpo e a saúde adquire um significado muito para além das vitaminas e minerais que os alimentos contêm: na verdade adquire um significado moral e ético. Vejamos porquê.
Na abrangência deste olhar e sentir, comer consiste em ingerir as qualidades do mundo animal, vegetal, mineral e, através de um processo de desconstrução da matéria, que a torna de novo em caos, retirar dela a essência dessas qualidades, uma vez libertas da organização da anterior estrutura.
O que o nosso organismo encontra através do trabalho que o fígado, o estômago, o pâncreas, etc executam nesse processo, é a verdade ou mentira desse alimento, relativamente à fonte que lhe deu origem:
Temos como alguns exemplos:
O «açúcar» que na verdade não é açúcar, mas um produto processado que se revela doce na boca; frutos ou vegetais cujas condições de crescimento os impediram de desenvolver as suas qualidades genuínas que se revelariam no paladar, no odor, na consistência e nos quais apenas a sua aparência exterior se mantém; alimentos de origem animal, cuja vida decorreu estranha às suas características próprias, numa contínua frustração dos seus instintos básicos que o deveriam ligar à vida.
A verdade e a mentira em que a vida de cada alimento foi edificada incorpora-se em cada um de nós, contribuindo para alimentar a coerência ou a incoerência do nosso agir.
Quando Hipócrates afirmou que somos o que comemos, referia-se a essa informação que em nós persiste, trazida do mundo através do alimento.
Ingerir um alimento que nos traz a mensagem da fertilidade da terra que o germinou, da luz e do calor do sol que o ergueu e amadureceu, da água que o regou, do consolo do sabor acre da erva fresca na liberdade de um prado, mas também do carinho das mãos que dele cuidaram, do respeito do olhar que o venerou, da gratidão de quem o colheu…
Ingerir esse alimento é integrar no ser a qualidade moral do mundo natural e a qualidade ética do mundo humano.
É guardar no corpo e na alma, como um tesouro escondido, a capacidade de não perdermos o maravilhamento face à generosa beleza da vida e a confiança na bondade dos homens.
Quando a criança pequena olha extasiada a estrela de 5 pontas que a maçã guarda dentro de si e que os olhos da criança viram surgir de uma delicada flor a que o vento soprou as pétalas; quando a criança já um pouco mais velha vê resplandecer a cor quente da abóbora que ela semeou ou o brilho da frescura verde das folhas de uma alface que ela plantou, ao receber no seu prato o que vai comer, experimentará no mais profundo do seu ser veneração pelas dádivas da terra, contidas em cada alimento.