Na cristalina manhã de Outono de 1 de outubro, encontrámo-nos na HARPA – pais, professoras e amigos – para nos irmanarmos às várias iniciativas antroposóficas ibéricas, que neste mesmo dia e à mesma hora, celebravam em uníssono o S. Miguel.
Tínhamos enviado a Imaginação de S.Miguel, como leitura preparatória e a partir dela decidíramos realizar esta celebração à volta do Outono que vai devagar envolvendo a HARPA em quietude, silêncio, apelando a um recolhimento apaziguador connosco próprios.
Depois de cantarmos louvores ao herói Micael e à chamada do Outono e mergulharmos o
nosso olhar nas dádivas da natureza na mesa outonal e nos símbolos que rodeiam a representação iconográfica de Micael, fomos convidados a responder à chamada, observando a natureza à nossa volta, na expetativa de apreender o significado das suas formas, gestos, cores para que, através delas, tentássemos ser agraciados com revelações do mundo supra sensorial, cujos enigmas, há que desvendar a partir da natureza, assim nos apela a Imaginação de S. Miguel.
A reflexão que se seguiu em pequenos grupos, partilhada depois no grande grupo, falou-nos da força do despojamento que o gesto outonal ostenta, apelando para que, também nós, saibamos libertar espaços no nosso interior, para que algo de novo possa surgir e refazer o mundo. A aparente vulnerabilidade desse gesto inspira-nos humildade face à grandiosidade da dádiva que ele oferece à vida.
Relembrámos as palavras que Steiner nos deixou sobre o desafio que Micael apresenta à humanidade: «Devolver ao espírito o que é elaborado pelo Homem na terra e devolver à terra a sua espiritualidade perdida».
Numa fluidez que marcou todo o encontro, aportámos quase sem dar por isso, ao grande tema da nossa época: a (auto)educação.
Como novos criadores, agora na área social e no âmbito universal, temos que enfrentar o(s) nosso(s) dragão(ões), integrando-o(s) na consciência de mim, como parte essencial do meu destino e assim realizar o ato de (auto) transformação para devolver ao mundo um tempo novo.
Quando diariamente levamos as nossas crianças para a natureza para que bebam na fonte a verdade e a bondade edifcadoras que só ela contem, estamos a ajudá-las a construírem um saber vivo, cujos conceitos crescerão com elas, tornando-as muito mais capazes do que nós, de desvendarem os enigmas do espírito, escondidos na matéria!
Terminámos com uma invocação micaélica, extraída da coletânea «Espada de luz» de Karin Stasch:
Sejam corajosos,
Mas sejam humildes,
Pois a coragem orgulhosa
Não é a coragem de São Miguel.
Somente a coragem
Que surge no coração
A partir do desejo de querer ajudar os homens
É a coragem que receberá
Ajuda dos mundos espirituais.