A Escola do Jardim do Monte na UNESCO, em nome da Arte na Pedagogia Waldorf

Por ocasião da 40ª Conferência Geral da UNESCO em Paris, a 13 de novembro de 2019, decorreu paralelamente em colaboração com a Fundação André Bocelli, o evento Symphony 2030 com o tema Creative Arts Education for Inclusion.

Fazendo a Escola Jardim do Monte parte da Rede de Escolas portuguesas Associadas da UNESCO,  com quem colabora anualmente nos encontros pedagógicos, foi convidada para participar no referido evento, como testemunho único do papel da arte no projeto pedagógico de uma escola. Único, na medida em que todos os outros participantes irião testemunhar como a arte, especialmente a música, desempenhava um papel terapêutico em situações de emergência – guerras, catástrofes naturais, etc – em vários pontos do globo.

Com o projeto Symphony 2030, a Fundação A. B. lançou o seguinte desafio no âmbito da Educação para o Desenvolvimento Sustentável e a Cidadania Global, que norteia a UNESCO:

«A educação é uma fonte de realização, descoberta e transformação. Capacitando as crianças e jovens com valores e competências que lhes permitem viver com os outros com respeito e solidariedade, a educação é uma força para a paz e o desenvolvimento sustentável. Tudo isto está protegido dentro da visão da Agenda 2030, que contempla as finalidades morais, sociais e humanísticas da educação. Uma educação inclusiva de qualidade necessita de transmitir não só valores, mas também competências para o século XXI.»

Este compromisso entre a UNESCO e a Fundação A. B. pretende reconhecer o poder da arte na educação para acordar a criatividade inata que todo o ser humano tem, proteger a herança viva cultural e unir todos à volta de valores comuns e aspirações que estão no centro da Agenda 2030.

Achámos o convite surpreendente, na medida em que este ano letivo a nossa escola, na continuação do trabalho iniciado no ano anterior, está a trabalhar muito intensamente a nível das medidas de inclusão, o que prevê não só as estabelecidas pela Escola Inclusiva como as terapêuticas dentro da Pedagogia Waldorf, que temos o privilégio de poder oferecer aos nossos alunos.

Acompanhada de um bom suporte visual do nosso trabalho, entusiasmada com a oportunidade de apresentar a nossa pedagogia a uma audiência alargada «não Waldorf» e sabendo que iria poder ouvir o André Bocelli ao vivo cantar o Hino à Alegria, voei para Paris!

Carinhosamente recebida pela equipa organizadora, ainda assisti um pouco à Conferência Geral, que se debruçou essencialmente sobre a Inclusão na Educação Superior, e onde Portugal foi representado pelo António Nóvoa.

No enorme anfiteatro onde ia decorrer a sessão, conheci os outros participantes – o Secretário Geral da Comissão Nacional da Coreia para a UNESCO, vários artistas da área da música envolvidos num trabalho pela paz em nome da UNESCO além do diretor artístico das Vozes do Haiti, que é um dos principais projetos da Fundação AB – ainda conversámos um pouco e à hora prevista chegou o André Bocelli que começou por falar sobre a música na sua vida, o papel da sua fundação e finalmente presenteou-nos com o hino de Beethoven, ali mesmo perto dos nossos corações! Foi emocionante!

A sessão teve igualmente momentos muito bonitos, ao ouvirmos o que estas pessoas fazem com a sua música em zonas de terror, onde tudo parece perdido e, no entanto, graças à voz humana, quando canta ou ao poder libertador da música, como o ser humano pode ser resgatado do seu sofrimento e de novo ligado à alegria de viver! Uma dessas pessoas, um violinista japonês, após umas breves palavras, falou-nos através do seu violino, tal como faz nos lugares que almeja resgatar. Foi magnífico!

Da minha parte, levei a audiência de volta à escola, olhando as belas imagens que testemunham o dia-a-dia das crianças, a beleza do seu trabalho, a envolvência da natureza. Falei da ação transformadora do mundo, que é a intenção da Escola Waldorf e de como o desenvolvimento de cada criança é alimentado para que cada uma delas venha a ser o futuro agente transformador; de como a arte está presente em cada momento do seu trabalho, acordando, através dele, a alma criadora do ser humano; de como a pedagogia Waldorf, enquanto pedagogia salutogénica, promove a inclusão, tal como o conceito é compreendido hoje , através do respeito que a sua prática devota às necessidades de cada etapa do desenvolvimento e através de recursos educativos, nomeadamente os de caráter artístico, que nela desempenham um papel curativo, determinante na construção do Ser.    

Foi-me muito gratificante sentir e verificar o interesse das pessoas que no fim me procuraram, com algumas das quais pude trocar palavras calorosas, plenas de confiança e reconhecimento do trabalho que nos guia em nome do futuro.

Deixo-vos o verso de Steiner, com que terminei a minha participação (dado pela Maya Moussa, no âmbito da Arteterapia), fonte de gratidão pelo poder criativo da alma humana e que, posso afirmar, foi recebido com alguma emoção:  

«No princípio dos tempos

O Espírito da Terra dirigiu-se ao Espírito do Céu

 E implorando-lhe, disse:

Eu sei falar ao Espírito do Homem 

Mas suplico-te

Que me concedas a linguagem

Pela qual o Coração do Mundo 

Possa falar ao Coração do Homem.

Então, cheio de bondade,

O Espírito do Céu, 

ao Espírito da Terra, suplicante,

concedeu-lhe a Arte.»

Leonor Malik

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